Arquivo de Julho 2009

Crónica 19

18 Julho, 2009

Querida Mariana,

Sim, eu sei. Já passou o Ano Novo, as 12 passas já lá vão, bem como o mesmo número de badaladas. A lista de “coisas a fazer”, a de “coisas a não repetir”, a de “com reservas”, a de “dê lá por onde der”… já lá vão bem longe, prontas a serem alteradas. Sei que desapareci da tua caixa do correio por mais de seis meses e logo eu que andava tão fino, como um relógio, ali sempre pronto a entrar pela frestinha da caixa, nas mãos de um qualquer carteiro. Eu sei disso tudo, sei do que te disse, do que te prometi (e logo tu que nunca gostaste de promessas) e sei também daquilo que não fiz.

Se me vais perguntar o que me aconteceu, o que mudou, o que me fez cessar a troca de correspondência, se me vais perguntar onde estive, porque não estive aí, porque estive em outro sítio qualquer, se me vais questionar qualquer coisa que seja… eu não vou saber responder. Não sei, porque há coisas que nos passam pela cabeça mais depressa que um relâmpago, mais depressa que os beijos que davamos aos 12 anos, assim de fugida, nas escadas do teu prédio.

Mariana, eu sei que te continuo a querer, que quero reacender aquilo que se extinguiu, mas minha querida, há coisas que não têm sequer ponta por onde se lhe pegue, ponta por onde se acenda. Tal como esta carta. As letras, as palavras, os períodos, os pontos. Tudo sai sem sentido, sem resposta para te dar, sem saber se a devia estar a escrever ou não, se mais valia estar calado de vez.

Não me perguntes o porquê, não me perguntes onde, não me perguntes quando, nem o quê. Diz-me antes o que quero ouvir, que afinal o tempo não passou, que não estamos em Julho, que afinal ainda é Dezembro e ainda vamos a tempo de ver o fogo de artíficio.